Tuesday, February 17, 2009

A voz indígena


Uma vez eu entrei em estado de graça e recebi uma miração muito bonita. Nela me foi comunicado que eu poderia fazer parte das vozes que falam em defesa da América Latina e de seus povos originais. As pessoas indígenas e não populações, como os cientistas brancos gostam de afirmar, precisam ser ouvidas, tentam ser ouvidas, mas quase nada é feito para colocar em prática aquilo que eles dizem.

A América Latina é e sempre foi muito maltratada. Qualquer um que tenha lido As Veias Abertas da América Latina do grande escritor uruguaio Eduardo Galeano, sabe do que eu estou falando. Assim como diz a música dos Racionais – desde o início por ouro e prata, olha quem morre, veja você quem mata – a exploração parece não ter fim.

Enquanto muitas pessoas forçadas a trabalhos escravos morriam ou se suicidavam junto com sua família para se defender dos abusos, os colonizadores europeus ficavam cada vez mais ricos. Desde épocas distantes, como a exploração desenfreada das jazigas de ouro e prata do Peru, o panorama não tem sido diferente. Ainda somos considerados meros brinquedos, peças em um tabuleiro para os nossos colonizadores, que ainda hoje estão no poder.


No ano de 1992 os povos indígenas resolveram se manifestar e aproveitaram o encontro do Rio 92, que tinha como tema a preservação do Planeta. Quanto tempo foi dado ao pronunciamento dos indígenas? Meros cinco minutos. Revoltante! Mais revoltante ainda é olhar as pessoas na platéia, todas engravatadas e com ares de poucos amigos. Uma tremenda falta de respeito!


Em 1997 foi lançado o documentário Yakoana – The voice indigenous peoples, que claro, não é conhecido do grande público. Por isso vou postar o link aqui no blog caso alguns de vocês tenham interesse: http://video.google.ca/videoplay?docid=2774943764325421300

Eu sempre tive um laço muito grande com os indígenas. Quando era pequena fiquei amiga de um índio do Mato Grosso do Sul que era escritor e passava as férias na casa da minha tia Cici, que é ex-presa política (aliás, como eu admiro essa mulher). Bom, com 10 anos fiquei a par da real situação do índio no nosso país. Lembro que o que mais me impressionou no seu relato foi à afirmação de que para os índios não existe tal coisa como propriedade e por isso muitos jovens estavam se matando enforcados por não saber viver a vida nesses termos. Chocante, triste e real.

No dia que tive essa miração me senti como dando um passeio por dentro de toda essa cultura ancestral, com uma forte identificação de pertencimento. Ouvi como uma espécie de barulhos vindos da floresta, com os quais eu já estava habituada, mas o que vi foi tão belo que mal consigo descrever. Lembro de a partir dali ter assumido um compromisso de mensageira, de porta voz, algo que eu já me prestava a fazer muito antes disso. As visões foram apenas confirmações.

Agora estou num período de recolhimento e aproveitando para me instrumentalizar, de todas as formas, inclusive com informações. Gerando energia para em breve enfrentar novas batalhas em prol do fim dos preconceitos e das injustiças, mesmo que isso seja utópico ou idealista, ideais elevados sempre tem um grande poder de prover nem que seja a menor das mudanças. Ou não, mas a gente continua tentando.

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